terça-feira, 10 de setembro de 2013

"Guia Prático" de Heitor Villa-Lobos

Guia Prático é uma coletânea de 137 arranjos criados por Heitor Villa-Lobos, nos anos 1930, para a música folclórica brasileira. Em 2009 a Academia Brasileira de Música, com o apoio do Ministério da Cultura do Brasil publicou uma edição especial do Guia Prático em 4 cadernos.

(Fonte: Wikipedia)


Guia Prático de Heitor Villa-Lobos
por Ricardo Prado

O Guia Prático de Heitor Villa-Lobos foi lançado pela Academia Brasileira de Música, com o apoio da Funarte. Uma bela edição, completa e bem tratada, para nos trazer essa praça de imensas, verdes, arraigadas árvores, onde se encontram todos os muitos Villa-Lobos.

Ali está o pesquisador, o compositor, o estudioso, o faminto de música, o insaciável Villa-Lobos. Ali está, a brilhar no cinquentenário de sua morte, o educador Villa-Lobos. E esse é essencial compreender quando acaba de entrar em vigor a Lei 111.796, de 2008, que obriga o ensino e a prática de música nas escolas.

Na valiosa e esclarecedora Separata que abre esta edição, podemos ver que Villa-Lobos pretendia, originalmente, que o Guia Prático tivesse seis volumes – o que revela muito sobre ele. O primeiro – com 137 “cantigas infantis populares cantadas pelas crianças brasileiras”, tem o nome de Recreativo Musical. A mim parece que sua intenção era exatamente essa, a de recrear, divertir e, assim, fazer da educação musical algo do que as crianças pudessem gostar. O segundo, Cívico Musical, a mim lembra o Villa-Lobos em seu momento, no Brasil que, tantas vezes repetindo-se, pretende ensinar seus filhos a reverenciá-lo. Depois, voltando ao recreio, ao prazer da música, ele propõe o volume Recreativo Artístico, um passo adiante, onde a diversão encontraria a linguagem. O quarto volume me parece – é difícil julgar tanto tempo depois – outra vez o contrapasso da dança, em que ele “recua” para o “escolar” do Folclórico Musical, com “temas ameríndios, mestiços, africanos, americanos e temas populares universais”. De todo modo, uma estratégica ampliação de repertório, que segue a cada dia mais urgente.

O quinto volume é uma lição de educação, 73 anos depois do plano do Guia Prático ter sido apresentado, pelo próprio Villa, no “Congresso de Educação Musical” de Praga, em 1936. Ele seria dedicado às “músicas selecionadas com o fim de permitir a observação do progresso, da tendência e gosto artístico, revelados na escolha feita pelo aluno, das músicas adotadas para este gênero de educação”. Ou seja, o aluno contribui para o processo com o seu universo musical, com o seu repertório, tendo a oportunidade de compreender como ele se insere no fluxo da história musical. Assim, o aluno conquista, ganha, se apropria do processo e, ao contextualizar as músicas que possui, na verdade conquista os caminhos para o “todo”. Aqui é importante, ainda, compreender como não ocorreu ao mestre Villa, tantos anos atrás, adotar as categorias que, mais recentemente, as ideologias impuseram às músicas. Em nenhum momento encontrei qualquer referência de Heitor Villa-Lobos à música “erudita” ou “clássica”. A categoria de “popular” ele emprega ou do ponto de vista da aceitação – como em “cantigas infantis populares” -, ou naquilo que ele, de fato, quer disseminar: como em “educação popular”. Mais do que uma cultura “erudita” ou “popular”, nossas crianças precisam de uma cultura da escolha.

O sexto e último volume do Guia Prático, Villa-Lobos planejava dedicar ao Artístico Musical. Depois de convidar ao recreio, de atender à escola, de avançar para a linguagem, de incorporar a experiência de cada aluno ao seu processo, ele avança, seguro, propositivo, para a arte da música, para o repertório das músicas “litúrgica e profana, estrangeiras, nacionais, gêneros acessíveis”.

Villa-Lobos é uma multidão. Não há, entre nós, quem não lhe interesse, a quem ele não escolha. Seu gênio espalhou-se por tanto quanto a música alcança – e a música alcança a tudo. A imensa sensibilidade dele nos legou o Guia Prático e, com ele, um plano tão ambicioso quanto exequível do que podem ser as categorias para pensarmos e realizarmos a educação musical escolar – popular, como ele chamava – em nosso país. Não é por outra razão que, sem qualquer pretensão, essa obra de imensa importância foi chamado de Guia, cujo adjetivo é Prático.

Sensibilidade vem do latim sensibile, que indica aquilo que é voltado para todas as direções. Não tonto, como uma biruta; não doido, como um pião. Algo aberto e convidativo, abrangente, inclusivo, confortável. Como uma praça.


Serviço:
Heitor Villa-Lobos: “Guia Prático” 1° Volume (4 livros)
- Separata (Histórico e fontes do Guia Prático, temas musicais);
- 1° Caderno (Partituras para canto);
- 2° Caderno (Partituras para coro a uma voz e piano);
- 3° Caderno (Partituras para coro a duas e três vozes e piano)

Editora: Funarte / Academia Brasileira de Música (ABM)
Autores: Manuel Corrêa do Lago, Sérgio Barbosa e Maria Clara Barbosa
440 páginas (total dos 4 livros)

(Fonte: www.vivamusica.com.br)

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